domingo, 15 de maio de 2011

O homossexualismo e o golpe de 64


Por Izaías Almada

A ordem veio de cima, do patrão: “Mais amor e menos revolução”. O autor da novela entendeu o recado tascou o primeiro beijo gay da telenovela brasileira. Com o baixo índice de audiência, quem sabe assim se poderiam ganhar uns pontinhos a mais com duas mulheres se beijando… E já se anuncia também o beijo gay masculino, cenas de sexo dentro de uma igreja, fantasmas e outras armadilhas de pegar incautos para animar essa novela que já nasceu debilitada.



Ultrapassada a casa dos trinta e tais capítulos exibidos, a telenovela “Amor e Revolução”, produzida e apresentada com grande divulgação pelo SBT, trouxe consigo a expectativa de resgatar em termos dramatúrgicos um período polêmico da história política contemporânea do país e que, segundo seus próprios criadores, seria uma novela realista, baseada em extensa pesquisa e investigação sobre os anos que antecederam e precederam ao golpe civil e militar de 1964.
Uma escolha sob vários pontos de vista acertada, até porque a telenovela brasileira tem uma enorme empatia com o público, independentemente da qualidade daquilo que apresenta. E o SBT, em particular, canal que costuma ou costumava privilegiar a importação de novelas de outros países, tinha agora a oportunidade de mostrar a sua efetiva intenção de mudança, de melhorar o seu repertório nacional no gênero.
O velho e surrado adágio popular diz, no entanto, que “de boas intenções o inferno está cheio”. “Amor e Revolução” confirma o adágio: é um desastre. E sob todos os aspectos. Texto medíocre, interpretação sofrível da maioria dos atores, direção mais do que convencional, cenários alguns deles inverossímeis (a mansão do general Lobo Guerra é apenas um exemplo) se somam e se confundem num apanhado de situações muitas delas também inverossímeis, onde a política e os complexos e conflituosos caminhos que a permeiam são reduzidos a uma retórica desprovida de qualquer sentido, repleta de lugares-comuns, sendo a ação dramática conduzida por cenas grotescas de um jogo de faz de conta, onde a tortura e até uma inesperada homossexualidade feminina ilustram, no limite da ambigüidade, a escolha do título. Confusão propositada, incompetência ou desconhecimento da matéria prima?
A tal pesquisa histórica, se existiu, não ajudou lá muita coisa, pois há uma ligeira confusão cronológica em situar guerrilheiros que propugnavam pela luta armada antes mesmo de se dar o golpe em março/abril de 1964. Mas isso não é lá tão relevante assim, dirão alguns. Afinal, trata-se de um folhetim e como todo folhetim televisivo, seus ingredientes se constituem de grande carga emotiva, mas na maioria das vezes toda ela ficcional.
Como todos sabem, a ficção é o ato de fingir, de dissimular, de criar fantasias, coisas imaginárias. Como, pois, não considerar relevante uma pesquisa histórica e a realidade dela extraída? Por acaso tortura, prisões ilegais, censura à imprensa, cassação de mandatos, mortes de oposicionistas, desaparecimentos, quebra da legalidade democrática, seqüestros, exílio, tudo isso seria parte de uma ficção que o país viveu naqueles anos? Em outras palavras: mostrar esses acontecimentos, ficcionando-os indevidamente ou por falta de conhecimento do que foi de fato a ditadura brasileira de 64, absolve os autores e produtores de um confronto mais direto e verossímil com aquela realidade?
Os personagens, vindo eles não se sabe muito bem de onde, aterrissaram nas cenas como paraquedistas e começaram a discutir sobre temas delicados, polêmicos, em alguns momentos como se estivessem todos na Escolinha do Professor Raimundo. Não há qualquer preocupação em se contextualizar o momento histórico, o antes, o durante e o depois do 1º de abril de 1964, a não ser com alguns poucos e surrados lugares comuns usados na época, sejam eles contra ou a favor do golpe de estado.
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