sexta-feira, 10 de junho de 2011

‘Gostaria de dar um enterro digno a ela’, diz mãe de Eliza Samudio

Jovem foi assassinada há um ano, segundo inquérito policial.
Corpo da ex-namorada do goleiro Bruno ainda não foi encontrado.
Alex AraújoDo G1 MG
 
Bruninho no colo da avó, Sônia Fátima Moura (Foto: Reprodução TV Morena)
Bruninho no colo da avó, Sônia Fátima Moura.
(Foto: Reprodução TV Morena)
 
“É penoso saber que a minha filha foi tirada de mim”, desabafou a mãe de Eliza Samudio, Sônia Fátima Moura, de 44 anos. A morte da jovem completa um ano nesta sexta-feira (10), segundo o inquérito da Polícia Civil. Para a polícia, ela foi morta em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em entrevista ao G1, Sônia, que mora com o neto Bruninho em Anhanduí, no Mato Grosso do Sul, disse que teve um ano difícil com a perda da filha. Mesmo com pouca esperança, ela acredita que o corpo ainda possa ser achado. “Gostaria de dar um enterro digno a ela”, disse. E completou: “Quem sabe em um momento de arrependimento eles [os réus] venham a falar. Oro para saber onde está o corpo da minha filha”.
Sônia disse ainda que fala ao Bruninho que é avó dele e não mãe. “Mostro fotos da Eliza e digo a ele que ela é a mãe dele. Ele é muito inteligente porque quando peço para ele mostrar a mamãe, ele traz o porta-retrato com a Eliza”, contou.
Sônia falou que Eliza foi retirada do filho de forma brutal, violenta. “No dia em que ele fez quatro meses [10 de junho de 2010], a Eliza morreu. Foi o único presente que eles deram ao meu neto, foi tirar a mãe, que vai marcar a vida dele”. A mãe de Eliza acredita que o neto tenha memória de tudo o que aconteceu com a mãe porque ele viveu todos os momentos ruins ao lado de Eliza.
“Ele faz um ano e quatro meses no dia 10 de junho e daqui a pouco vai me perguntar sobre a mãe e eu tenho que saber como falar. Mas devo dizer algo do tipo que o ‘papai do céu’ levou a sua mãe”. Dona Sônia interrompe a entrevista e chora.
Ainda de acordo com ela, desde a morte da filha, perdeu 25 quilos e dorme, por noite, aproximadamente três horas. “Depois que a Eliza morreu, tomo remédio [antidepressivo] há sete meses e faço tratamento psicológico, até para eu saber como vou dar a notícia ao Bruninho. Fico acordada pensando na minha filha, no sofrimento dela, nas coisas que ela gostava de fazer”, falou chorando.
Mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura de Fátima, em audiência que ouve testemunha de acusação. (Foto: Pedro Triginelli/G1 MG)
Mãe de Eliza Samudio, Sônia Fátima Moura, em audiência que ouve testemunha de acusação.
(Foto: Pedro Triginelli/G1 MG)
 
Sônia comentou que tem de ser forte porque o neto precisa dela. Ainda segundo ela, o menino é uma criança iluminada, inteligente e tem o jeito da mãe. “Os olhos, o jeito de sorrir e o cabelo dele são iguais aos da Eliza quando ela era pequena”.
Com relação à justiça, Sônia falou que espera que o julgamento seja marcado o mais rápido possível. “Só depois disso é que eu vou ter um pouco de tranquilidade. Espero que eles sejam condenados e não fiquem impunes ao que eles fizeram. A justiça precisa ser feita porque o meu neto não vai ter o carinho e o aconchego da mãe”.
Sônia falou que vem a Minas Gerais para acompanhar o julgamento. “E vou levar o meu neto também”.
Com relação ao trabalho realizado pela Polícia Civil de Minas, Sônia disse que a corporação trabalhou bem. “O doutor Edson Moreira é muito dedicado, profissional”.
Polícia Civil
O chefe do Departamento de Investigações (DI) e responsável pelo inquérito, Edson Moreira, disse ao G1 que a busca pelo corpo ou restos mortais de Eliza Samudio continuam à medida que chegam denúncias, a maioria anônima, e que estejam relacionadas ao desaparecimento de Eliza. “Denúncias vêm dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e, a maioria, vem de São Paulo”, explicou Moreira.
Segundo o delegado, a polícia averigua todas as informações sobre o paradeiro do cadáver.
O goleiro Bruno algemado deixa o Fórum de Esmeraldas, na Grande BH; atrás, o amigo Macarrão. (Foto: (Foto: Alex Araújo/G1 MG))
O goleiro Bruno algemado deixa o Fórum de Esmeraldas, na Grande BH; atrás, o amigo Macarrão. (Foto: (Foto: Alex Araújo/G1 MG))
 
Justiça
Com relação ao andamento do processo que apura o desaparecimento e morte de Eliza, Samudio, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou que os advogados de defesa dos réus recorreram contra a pronúncia da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues de levar os réus a júri popular.
O pedido foi encaminhado à Procuradoria Geral de Justiça para o julgamento do desembargador Doorgal Andrada e, de acordo com a assessoria, não tem prazo estipulado. O magistrado, ao analisar o pedido, pode solicitar outras informações que considere importantes para julgar. Só depois da decisão do relator Andrada é que o julgamento será marcado.
Entenda o caso
Eliza Samudio se mudou para o Rio de Janeiro no início de 2009. Em abril ou maio do mesmo ano, ela conheceu o goleiro Bruno e os dois tiveram um relacionamento. Em outubro, ela fez um boletim de ocorrência por agressão e sequestro no Rio de Janeiro. Nesta época, Eliza relatou a um órgão da imprensa que estaria grávida do goleiro.
Em fevereiro de 2010, a jovem deu à luz um menino e alegou que o atleta era o pai da criança. Segundo a polícia, entre os dias 5 e 8 de junho, Eliza foi levada do Rio para Minas. Ainda segundo a polícia, no dia 9 de junho, ela foi levada do sítio do Bruno, em Esmeraldas, para Vespasiano. Ambas as cidades ficam na Grande BH. A mulher teria sido morta, na madrugada do dia 10, em Vespasiano.
Ex-namorada do goleiro Bruno chega ao Rio (Foto: Tássia Thum/G1)
Ex-namorada do goleiro Bruno chega ao Rio.
(Foto: Tássia Thum/G1)
 
Entre os dias 24 e 25, a polícia recebe denúncia de que Eliza teria sido agredida no sítio. Logo em seguida, começaram as investigações sobre o paradeiro da moça. A criança foi encontrada em Ribeirão das Neves, na Grande BH, e alguns suspeitos foram convocados para depor.
Dia 6 de julho, a polícia ouviu o adolescente que estaria dentro do carro junto com Eliza na viagem do Rio para Minas. A Justiça determinou a prisão de Bruno e do amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Neste dia, um exame comprovou que o sangue no carro de Bruno era de Eliza.
No dia seguinte, Bruno e Macarrão se entregaram na Polinter do Andaraí, na Zona Leste do Rio de Janeiro. A Justiça mandou prender Dayanne de Souza, mulher de Bruno, e Sérgio Rosa Sales, primo do atleta.
Ainda no dia 7 de julho, a polícia fez buscas na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano. O menor foi ouvido outra vez e Bruno foi indiciado como mandante do sequestro de Eliza do Rio de Janeiro para Minas Gerais.
No dia 8, Bola foi preso e Bruno e Macarrão foram transferidos para Minas. No dia 9 de julho, Sônia Moura conseguiu a guarda do neto na Justiça. Flávio Caetano, Wemerson Marques, o Coxinha, e Elenilson Vitor da Silva foram presos.
Goleiro Bruno desmaia após audiência em Ribeirão das Neves, Minas Gerais, em outubro (Foto: Pedro Triginelli/G1 MG)
Goleiro Bruno desmaia após audiência em Ribeirão das Neves, Minas Gerais, em outubro.
(Foto: Pedro Triginelli/G1 MG)
 
No dia 10 ou 11 de julho apareceu mais um nome no caso: Fernanda Gomes de Castro, que também teria tido um relacionamento com o jogador.
No dia 12, o adolescente foi ouvido no Rio e, no dia seguinte, foi transferido para Minas. Ele disse à polícia que foi chamado para um “dar susto” em Eliza, junto com Macarrão.
No dia 14, a polícia fez novas buscas pelo corpo de Eliza na casa de Bola, em Vespasiano.
O Flamengo mandou uma carta de demissão de Bruno no dia 16, mas anulou a decisão no dia 20. No dia 29 de julho, polícia indiciou Bruno e mais oito pessoas pelo desaparecimento e morte de Eliza.
Em 5 de agosto, Fernanda foi presa em Minas. No dia 6 de outubro, Bruno teve um mal súbito durante audiência em Ribeirão das Neves e é levado para posto médico.
Bruno, Macarrão e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola (Foto: Alex Araújo/G1 MG)
Bruno, Macarrão e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola
 (Foto: Alex Araújo/G1 MG)
 
No dia 23, o advogado Ércio Quaresma deixou a defesa do goleiro. Quatro dia depois, Flávio Caetano é solto pela Justiça.
A Justiça do Rio de Janeiro condenou Bruno no dia 7 de dezembro de 2010 por manter Eliza em cárcere privado.
Em Minas, no dia 17 de dezembro, a Justiça decidiu que o jogador, Bola, Macarrão, Sérgio, Dayanne, Fernanda, Wemerson Marques e Elenilson da Silva vão a júri popular.
O goleiro, o amigo Macarrão e o primo Sérgio estão presos e vão a júri popular por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Bola, que também está preso, vai responder no júri popular por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.
No dia seguinte, Dayanne Souza, Fernanda Castro, Wemerson Marques e Elenilson Vitor da Silva foram soltos pela Justiça e respondem em liberdade pelas acusações de sequestro e cárcere privado.
Dayanne Souza (Foto: Pedro Triginelli/G1)Dayanne Souza (Foto: Pedro Triginelli/G1)
 
Na prisão, Bruno ganhou o direito de treinar com bola no dia 22 de dezembro. Em 2011, no dia 19 de maio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o habeas corpus para o goleiro Bruno pedido pelo advogado Cláudio Dalledone Júnior.
No dia 20 de abril deste ano, Bola foi transferido da Nelson Hungria para Penitenciária Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, na Grande BH.

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