sábado, 8 de outubro de 2011

Quatro mil criminosos estão soltos por falta de vagas no RN

Por Paulo de Sousa, do Diário de Natal

Temerosos de que haja em breve uma "explosão" do sistema penitenciário potiguar devido a sua superlotação, a Corregedoria de Justiça e Ministério Público Estadual reuniram-se para cobrar do governo o planejamento para solucionar o problema. O Corregedor Geral de Justiça, o desembargador Cláudio Santos, afirma ter oficiado os secretários de Justiça e Cidadania e de Segurança Pública pedindo que apresentem um cronograma das providências tomadas pelo Estado para contornar a questão. Ele alerta ainda que, em caso de haver tragédias no sistema devido à superlotação, os gestores públicos poderão ser responsabilizados de forma penal por omissão. O promotor criminal Wendell Beetoven destaca que a situação é tão crítica que a Polícia tem deixado de cumprir mais de 4 mil mandados de prisão por não haver vaga comportar o volume de detentos. O titular da Sejuc, Tiago Cortez, informa que pretende criar, em médio prazo, 600 novas vagas para o sistema carcerário.

Uma reunião ocorreu nessa sexta-feira (07) na Corregedoria de Justiça com os corregedores, juízes da Grande Natal e promotores criminais da capital. Nela, Cláudio Santos ressaltou que, no encontro que teve com representantes da Polícia e do sistema prisional potiguar na última terça-feira foi feito um alerta pela cúpula policial de uma provável "explosão" das cadeias em breve, caso a superlotação não seja revertida. Preocupado com esse risco, o desembargador alertou por ofício os secretários quanto a possível responsabilização pessoal dos gestores judicialmente, caso ocorram homicídios ou outros crimes graves por causa de rebeliões que vierem a existir.

Na reunião, o Corregedor Geral também pediu ao MPE que tomasse medidas mais enérgicas para cobrar do Estado a solução para essa questão. O promotor Wendell Beetoven, por sua vez, destacou que há uma decisão judicial que determina a retirada de presos das delegacias de todo o território potiguar que ainda não foi cumprida pelo governo. Na ação movida pelo MP que culminou com tal decisão, há o pedido de aplicação de multa aos gestores públicos de R$ 5 mil diários por cada preso, caso haja o descumprimento. "Mas o Estado conseguiu que a Justiça suspendesse essa cobrança até que o caso transite em julgado".

O promotor ressaltou que tal impasse leva à Polícia Civil, com delegacias lotadas de presos, acabe não trabalhando a contento. Segundo Wendell Beetoven, um levantamento do MP demonstra que "das quase duas centenas de homicídios que já ocorreram este ano em Natal, menos de 5% desses casos se chegou à autoria dos criminosos". Para o promotor, a crise do sistema penitenciário acaba por tornar inválido o trabalho do judiciário. "É tão difícil que consigamos comprovar a autoria de certos crimes e conseguir a condenação dos culpados. Quando isso é possível e sai o mandado de prisão para que a pessoa cumpra a pena, a Polícia não é capaz de prendê-la por não haver vaga nas cadeias para custodiá-la. Sentimos que todo o nosso esforço é jogado fora", comenta o promotor.

Sem prazo

O secretário Tiago Cortez, daSejuc, diz ainda não ter lido o conteúdo do ofício, por isso não pode dar resposta sobre isso. Quanto às obras, ele lembra que a secretaria está se esforçando para poder liberar o novo pavilhão anexo da Penitenciária de Alcaçuz nas próximas semanas, criando assim 250 vagas. Além disso, há a reforma do antigo prédio da Delegacia Especializada de Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov) e da Cadeia Pública de Mossoró, totalizando 600 novas vagas. Contudo, ele afirma que não há prazo para a entrega dessas construções. O titular da Sejuc diz que o governo Federal tem garantido R$ 24 milhões para criação de novas penitenciárias no Rio Grande do Norte e que a governadora do estado, Rosalba Ciarlini, tem se esforçado para conseguir outros R$ 10 milhões para esse fim. "Dependemos agora da liberação dessa verba para dar início às obras".

Nenhum comentário:

Postar um comentário