quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O político e o mito Lula


Por Luiz Horacio
 
As polêmicas da semana em torno de Lula acirraram bastante os ânimos, e deram margem a muita discussão política, inclusive esse tema bastante interessante do Brasil "pós-Lula".

Gosto de pensar isso independente da presença ou ausência pessoal de Lula, tanto faz. Um processo pós-Lula poderia ser desbravado até pelo próprio Lula, pois o essencial nisso é o processo
.
Uma questão bastante sensível sobre isso é saber se tanto os "pró-lulistas" quanto os "anti-lulistas" terão cumprido uma trajetória de aprendizado semelhante à que realizou o Lula.

Essa é uma perspectiva geralmente deixada nas sombras ou deixada às traças, realçando bem, a trajetória histórica de Lula, essa que tem realmente valor e que o qualifica como grande líder popular da história brasileira.

Mas, vejam só a ironia do processo político brasileiro, o que é exaltado pelos "seguidores", pelos "antagonistas" ou pelos envolvidos na luta política e em todos os seus cenários agregados, é o "pragmatismo", a genialidade "espontânea" de Lula, o seu desprendimento em relação aos sistemas e valores estabelecidos, como se isso fosse alguma espécie de rebeldia ou liberdade ou consciência, ou seja, valores positivos e construtivos, que todos devem mimetizar.

O seu despego às "teorias" e "estudos" e "diplomas", etc. Esse é que seria o "segredo", a "sacada".

Infelizamente, para o processo, penso que houve um desaprendizado muito grande da verdadeira trajetória de Lula, de sua formação, de seus contatos políticos de fazer avançar a política no Brasil, através de vários setores da sociedade, e não apenas um grupo mais restrito de amigos, ou de políticos de um mesmo partido, ou de aliados e financiadores, etc.

Lula aprendendo através da convivência com brilhantes intelectuais das mais diversas áreas, convivendo diariamente com discussões riquíssimas, tendo contato com detalhes de análises e de informações gerais ou dados específicos.

Será que isso não corresponderia à formação de um curso universitário, mais especialização, mestrado e doutorado?

Pelo que conheci da universidade brasileira, dos meus 9 cursos iniciados e 1 terminado, deste 1976 até 2003, em uma verdadeira via-sacra por esses cenários da redemocratização e de meu trajeto pessoal, corresponde sim ao cumprimento de muitas e muitas horas em carga horária de disciplinas.

E, nas Ciências Humanas, isso corresponde ao curso formal. O que faltaria? Claro, a parte literária, as leituras formais e a produção escrita. Isso foi substituído pela oralidade e pela pragmática, mas, notem, uma pragmática verdadeira, nesta primeira fase, uma pragmática PENSADA, instruída, orientada - conforme concebida pelos primeiros pragmáticos - e não apenas uma pragmática "de ocasião", ou de "conveniência", como passaram a pensar e desejar os cenários desatentos da política brasileira.

Essa outra pragmática não é "a" pragmática sistêmica, a que Lula realmente aprendeu, mas uma pragmática cotidiana, descuidada, espontânea e que pode levar tanto ao sucesso quanto ao desastre. A primeira focaliza o tempo todo, de modo cientificamente calculado, o cumprimento de seus objetivos, e todos objetivos sistêmicos, fruto de uma profunda e continuada análise da sociedade e do país.

Essa é uma gigantesca diferença, e é nesse enorme equívoco que se tenta encaixar algo como o "mito" Lula. Mas, para quê esse mito Lula? O homem real, o Lula real é que existe, e é muito melhor que o mito. O outro é simplesmente uma imagem, da qual muitos, aliás, tentam se aproveitar e explorar de modo astuto e negativo, como marketing para "aprontar" enquanto desviam a atenção: "olhem, sou amigo do Lula, sou aliado do Lula, sou igual ao Lula". E não são nada disso.

O vazio que Lula poderia deixar, isso sempre chamo a atenção, JÁ EXISTE! A instrumentalização e a manipulação da imagem e da história de Lula, de modo astuto, já está sendo feita por muita gente. E Lula tem cuidado muito pouco disso.

Essa sempre foi minha maior crítica sobre ele. Tem aceitado demais conviver com pessoas, valores, idéias, objetivos e práticas que são totalmente contrárias a sua formação pessoal e política, e que se conflitam com sua própria trajetória. Acho que isso fez mal a ele.

Ter de compactuar com muitas atitudes que no fundo desaprovava e desaprova. Isso não faz bem.

O espaço que Lula pode continuar preenchendo é esse do protagonismo político dos avanços sociais e sistêmicos do Brasil, o rompimento gradativo com os compromissos arcaicos, a coragem de ir adiante, de descobrir e desbravar o novo, de dispensar e desfazer os vícios, esclarecer os descaminhos da história brasileira, colocar o Brasil na direção certa.

Isto ele fez, mas precisa reafirmar sempre, e ir adiante sempre, pois os caminhos da política tendem a ser sempre tortuosos, tendem a ser sempre retrógrados, quando descuidados.

E é justamente cuidando de sua trajetória verdadeira, aquela que o preparou e projetou para o Brasil e para o mundo que poderia dar ao Lula a continuidade de seu projeto político, de seus campos de luta política.

A reafirmação de que na política se dever prosseguir sempre com ética, com responsabilidade, com amor pelas coisas certas. Não é nada fácil, podemos conferir na própria trajetória de Lula, diante das dificuldades impossíveis de seu país. Portanto é preciso também costurar de forma cada vez mais acertada, e deixar o passado para traz, concentrar-se em um presente real e efetivo de construção do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário