segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Água Fria Futebol Clube

Meu caso talvez seja ainda mais grave. Vida dura esta de atleticano: a gente investe no pay-per-view, traz boas lembranças do passado (algumas) mas ainda no campeonato regional vê um Galo de muita briga e raro brilho. Não é mole não, cada jogo é um suplício, um Deus nos acuda. Bom, não falta emoção em nossos jogos, isso é um fato, mas são emoções indesejáveis na maioria das vezes.

Dupla dinâmica de afilhados, Marcos e Gabriel não jogam duro com o tio, mas certa vez minha única saída foi retrucar com esta: “Qual é a graça de torcer pro São Paulo, ô meu?”.

Já rezei pedindo a meu guru que dedique umas bençãos ao Galo das Minas Gerais, mas meu guru é indiano, uai, entende mesmo é de cricket... nada feito!

Tudo bem, pode ser que meu caso seja mais grave, mas convenhamos: chegam os campeonatos regionais, a Libertadores, daqui a pouco o Brasileirão, vamos nos empolgar com um ou outro jogo de muitos gols e alguns lances de beleza, mas não dá pra esquecer o que o Barcelona fez com o melhor das Américas. Aquela decisão contra o Santos (havia mesmo alguém jogando contra o Barça?) foi de botar a realidade na frente da nossa cara.

A chamada crônica esportiva evita dizer com todas as letras, até porque em se tratando de futebol jornalismo e promoção de entretenimento se confundem... você já ouviu comentarista denunciar ao vivo que o jogo tá uma pelada? Não pode, o limite do jornalismo esbarra no negócio do show que depende de sua audiência.

Mas, qual show? Até que nascem uns craques aqui e ali, mas não há sinais de nada nem ninguém que esteja “reiventando o futebol brasileiro”. A pátria de chuteiras faz hoje um futebol óbvio ululante, alternando correria previsível com toques de baixa eficácia, marcação titubeante com botinadas de várzea na hora do desespero.
Somos o que “eles” eram antes, e “eles” estão jogando como nós um dia o fizemos.

A orquestra de Messi e companhia escancarou a dúvida: haverá entre nós uma dúzia de craques e também uma nova mentalidade para que seja amarelinha a cor de um futebol-arte capaz de nos encantar numa final de 2014 no Maracanã? Tenho minhas dúvidas: do jeito que as coisas andam pode ser que a gente nem corra o risco de um novo Maracanaço. Viro minha boca pra outro lado, mas...

O Barcelona nos deu um banho de água fria. Rasgou o véu da ilusão que, desapercebidos, tecemos no campeonato que jogamos cá entre nós, competitivo porque nivelado por baixo. Se tivermos olhos para ver, quem sabe poderemos dizer em pouco anos: “Não fosse o Barcelona a gente não teria acordado e ainda estaríamos jogando aquele futebolzinho de 2006, 2010, 2011...”. Água fria serve pra acordar, mas tem que estar vivo.



Geraldinho Vieira é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário