Pela primeira vez na história, o mundo assiste em tempo real a uma crise econômica global, o desmonte das ideias centrais que prorrogaram a vida do velho modelo e as primeiras sementes plantadas para o nascimento os novos tempos.
As crises anteriores davam-se no espaço restrito das altas finanças. Havia uma redoma impedindo que o conhecimento acumulado transbordasse para o mundo da política, da incipiente opinião pública da época e mesmo dos economistas não familiarizados com o mundo financeiro.
A defesa que Celso Furtado fez da política monetária de Rui Barbosa - a maneira como implementou o papel moeda na economia - focalizou apenas o princípio legitimador - criar crédito para a industrialização - não o modo de operação - uma esbórnia ampla beneficiando aliados financeiros, que acabou comprometendo todo o modelo.
Em seu artigo sobre as saídas para o capitalismo, o colunista Martin Wolff, do Financial Times, menciona as análises de Hyman Minsky, que estudou a maneira como o sucesso do financismo planta as raízes para a crise seguinte.
Na primeira etapa, o valor das empresas é dado pelo fluxo de caixa descontado. Ou seja, estimam-se os resultados por um prazo xis e se traz a valor presente de acordo com determinada taxa de juros.
Na privatização, a maneira de derrubar o valor das estatais colocadas à venda era subestimar o fluxo futuro de resultados ou aumentar a taxa de retorno esperada.
A segunda fase é quando o faturamento das empresas pagava os juros.
Parte relevante das privatizações brasileiras foi feita nos chamados “projects finances”. O comprador conseguia um financiamento do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico s Social).
Depois, os próprios resultados da empresa pagavam o financiamento contratado.
Muitas jogadas especulativas foram montadas em cima dessa lógica.
A terceira fase é quando especuladores tomam recursos emprestados e adquirem companhias esperando pagar com a simples valorização dos ativos. É o chamado “efeito Ponzi”, que acaba por estourar as bolhas especulativas.
Com o fim do financismo, entra-se em uma nova etapa.
Na crise de 1929, o modelo vitorioso foi do New Deal, de Roosevelt, calcado na geração de empregos, na retomada das atividades básicas da economia, na legitimação política e no combate à especulação.
Agora, entra-se em fase semelhante.
No meio da semana, Martin Wolff, do Financial Times, chamou a atenção do mundo para a importância das políticas sociais – não só como maneira de reconciliar o povo com a política econômica, como de revigorar o mercado de consumo.
Na 5a feira, no Fórum Internacional de Davos, coube a um dos principais arautos do chamado Consenso de Washington – a série de práticas recomendadas a países, que marcou a introdução do neoliberalismo nas economias periféricas – Larry Summers apontar as atividades voltadas ao bem estar da população (educação, saúde) como o novo motor de recuperação das economias
.
Aos poucos, a economia global caminha para o mesmo desfecho que levou, no pós-guerra, às três décadas de ouro do capitalismo.
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