Por Pierre Lucena
O silêncio ensurdecedor de uma Universidade sitiada e bombardeada
Por Pierre Lucena, do blog Acerto de ContasNesta sexta-feira o Centro do Recife viveu um triste e desnecessário momento de tensão entre Governo do Estado e estudantes que saíram pelas ruas para protestar contra o aumento das passagens de ônibus.
Desde antes do começo do ato algo sinistro pairava no ar. Na quinta-feira a noite alguns estudantes que ajudavam na organização da passeata foram “convocados” a estarem na Delegacia no horário do protesto.
Após saírem em passeata começou o espetáculo digno de momentos de tirania, com balas de borracha e bombas de efeito moral sendo utilizadas, supostamente em revide aos “agressivos” estudantes. Posso testemunhar que esse não era nem de longe o espírito dos estudantes. Sempre tem um ou outro mais exaltado, mas estavam em paz.
Após serem dispersados, os estudantes se aglomeraram na Faculdade de Direito do Recife, onde funciona o curso de direito da Universidade Federal de Pernambuco. Qual foi a surpresa quando o Batalhão de Choque se deslocou para lá e, além de sitiar o prédio da UFPE, ainda arremessou bombas para dentro da instituição de ensino, que diga-se de passagem, é uma área sob jurisdição federal.
Consumado o absoluto abuso e desrespeito com a Instituição, liguei para o Reitor Anísio Brasileiro, falando do ocorrido e pedindo que ele exigisse uma resposta convincente do Governador do Estado para este absurdo que ali se configurava.
Ele me falou que tinha conversado com a Diretora da Faculdade, e que a situação estava sob controle.
Eu ponderei que a questão não era essa. Independente de qualquer posicionamento político, o Governo do Estado não tem o direito de bombardear a Universidade através de sua polícia, ainda mais com o objetivo de atingir e ferir estudantes.
Fui candidato de oposição a Anisio na eleição de Reitor da UFPE, e apesar de divergências políticas, tenho por ele um grande respeito e espero que tome alguma providência. O que aconteceu é uma afronta à Universidade e à sua autonomia.
Não vivemos em uma ditadura militar e a instituição precisa exigir respeito. Como disse meu amigo, o também Professor Fernando Gonçalves, “uma universidade de cócoras não é uma universidade”.
As imagens (feitas pelo Diário de Pernambuco) são chocantes. Só a Direção da Faculdade de Direito parece que não viu, pois preferiu dizer que não tinha danos ao patrimônio e ali não eram estudantes da UFPE, em uma atitude covarde que envergonha grandes intelectuais que por ali passaram.
Para começar muitos dos estudantes que estavam ali eram da UFPE e mesmo que não fossem, antes de tudo são pessoas que devem ter seu direito de protesto garantido. Acima de qualquer divergência política está o direito à liberdade de opinião. E cabe a uma liderança acadêmica se fazer respeitar dentro do seu ambiente universitário.
Não importa o posicionamento ideológico da direção da Faculdade, o meu, o de Anisio, o de Eduardo Campos, o dos estudantes que ali estavam ou de quem quer que seja. O que importa é que conquistamos o direito à cidadania democratica e este deve ser garantido, ainda mais em um espaço universitário onde supõe-se que isto seja respeitado.
A ditadura do pensamento único está destruindo o espírito crítico das pessoas, especialmente na Universidade. A subserviência acadêmica e política parece estar acima de tudo e quem se opõe é tratado como inimigo.
O esmagamento político da oposição em todos os níveis tem sido extremamente maléfico ao exercício democrático. Isso vai de uma simples eleição administrativa ou de um sindicato até o poder Executivo. Querem eliminar qualquer espaço político para divergências e debates.
Não cabe à Universidade se posicionar a favor de Governo A ou B. Mas cabe a ela se posicionar em defesa da democracia e da sua comunidade, que foi violentamente agredida.
Após ter sido bombardeada e sitiada, o silêncio da UFPE em relação a esta afronta à democracia tem sido ensurdecedor.
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