segunda-feira, 19 de março de 2012

Da arte de largar a velha nicotina

Por Mário Prata

Largar de fumar é facílimo! A frase não é minha. É do sempre ótimo Millôr Fernandes, que complementava:

- Eu, por exemplo, já larguei umas quinze vezes!

O pior problema dos tabagistas, não é fumar. É passar a vida inventando maneiras de deixar de fumar. Sempre achei que um dia irão proibir a fabricação e a gente vai fumar unzinho só, traficado, por dia. Da lata! Mas, enquanto os governos não tomam providências, cada um vai se virando da sua maneira para deixar o vício.

Conheço várias histórias de tentativas verdadeiras (todas frustradas, é claro) de amigos e amigas. A minha comadre Joana Fomm, por exemplo, foi me visitar um dia em Cascais, tirou o maço do bolso e me pediu:

- Não rias! Não rias!

Cortou com a mão metade do cigarro e fumou a outra parte. Claro que eu ri. Joana continua fumando até hoje. Só que, no lugar de um maço, fuma dois, pela metade. Mas tem seu fundo científico. Segundo o doutor Castanho, do spa São Pedro, este método está sendo testado nos Estados Unidos e muita gente vem abandonando o prazer. Sabia, Joaninha?

Meu querido colega João Ubaldo Ribeiro, por exemplo. Foi proibido de fumar porque a nicotina estava afetando a visão dele. Na Copa dos Estados Unidos, onde quer que a gente estivesse, ele se encostava em mim e falava baixinho no meu ouvido:

- Me dá um.

- Mas você não está proibido?

- Mas eu vou fumar escondido.

- Escondido de quem?

- De mim, uai.

E ia fumar atrás de uma árvore. Parecia que estava a fazer xixi.

Tenho um amigo, em Lins, de mais idade, que também está proibido. E olha que ele é médico. Sabe o que ele faz? Nem fuma, nem traga. Come cigarro. Isso mesmo, come.

Mas os métodos vão evoluindo. Na minha infância tinha um tal de Nicotinex. Depois inventaram chichetes de nicotina. Dava um hálito horroroso. Hoje em dia tem as tais placas que você gruda no peito. Com todo o meu respeito às indústrias farmacêuticas, sei não…

E o furo na orelha, você lembra? Grande moda do final dos anos setenta. Chegou um gringo aqui e começou a furar orelha de todo mundo. Parecia o Tyson. Não podia ver um fumante com orelha que mandava o bisturi. Depois dava um ponto. Tinha uma fila.

Ele operava trinta, quarenta pessoas de cada vez. Deve ter ficado rico. Sem falar na acupuntura. Sei não… Me lembro de um famoso advogado que fez a operação da orelha (eu também fiz) e começou a fumar escondido da família e dos amigos. Pode? Pode, porque eu também fiz a mesma coisa.

Agora, o pior não-fumante é o ex-fumante. Como fica chato. É como aquele que para de beber e não consegue mais acompanhar o papo dos que bebem. Além do mais, passam a fumar charutos e/ou cachimbo. Quer cheiro pior?

Toda essa tergiversação começou com um encontro casual que eu tive com uma ex-namorada que eu não via há quase 30 anos. Foi domingo num spa. Ela estava com as tais placas peito acima, me garantindo que, desta vez, ia largar o vício de mais de 40 anos. Ela estava de visita ao irmão e eu num almoço para uns publicitários. Cinco horas, ela indo embora. Meu cigarro acabou e eu ainda ia ficar mais umas duas horas.

- Aninha, você não se incomoda de deixar o seu maço comigo? O meu acabou e a lojinha está fechada.
- Tenho vergonha, me disse toda tímida.

- Vergonha do quê, de me dar o seu maço?

- É que você não vai acreditar.

Me deu um maço de Free. Já tínhamos (novamente) alguma coisa em comum.

- Olha. Olhei.

- Mas o que é isso? Juro:

- É que, para fumar menos, puxar menos fumaça, eu pego o maço, ainda fechado e faço vários furos nele. De um lado até o outro do maço, está vendo. Igual àquelas espadas nas caixas de mágico com, mulher dentro. Acerto o filtro e várias partes do cigarro.

Você não pode imaginar o estrago que estava o maço da Aninha. Ela foi embora. Eu tentei fumar.

 Tentei. Pode ser uma solução. Furar o mal pela raiz.

Mário Prata é escritor e cronista

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