Portanto, há muito para fazer e construir. Na realidade, os Estados brigam entre si, notoriamente na famosa guerra fiscal. Cada um faz o possível para se tornar mais atrativo para projetos e empresas investidoras. Isso tem o seu lado positivo: é a maneira que os empresários acham para escapar de uma carga fiscal confusa e elevada. Nessa situação, Pernambuco tem se sobressaído, com o Prodepe que continua sendo aplicado pelos vários governos, quaisquer que sejam as tendências políticas.
Sabe-se que nosso Estado desenvolve-se com um ponto percentual a mais que a média nacional.
Apesar da satisfação registrada pela população e as autoridades, deveria ser o dobro. Eis a questão essencial: como se tornar a Califórnia do Brasil?As alternativas são várias. Primeiro, a infraestrutura deve dar um salto de qualidade. Aqui, somos acostumados, por exemplo, a ver as estradas chegarem depois das empresas, ao contrário da China, que as constroem em qualquer lugar. É triste ver que ainda hoje, boa parte da estrada que leva a Suape é de apenas duas vias. Deveria ter sido completada há mais tempo. Por outro lado, no campo tecnológico, a internet dita banda larga ainda é lenta. É tempo de também investir em estruturas de comunicação.
As nações, e nosso caso, os Estados, são o reflexo do povo que os compõem. É o momento de se investir nos talentos. Porque não criar o ITA Pernambuco? Hoje o Brasil forma 45000 engenheiros por ano e precisa de 60000. Há uma clara necessidade em quantidade, sobretudo em qualidade. Devemos ser conscientes que Embraer é uma das maiores empresas exportadoras brasileiras, quase a única com produtos de alto valor agregado, graças aos executivos e engenheiros vindo do ITA.
Porque não investir numa escola para altos servidores do Estado, tal como a famosa ENA na França?
Investir em talentos implica também formar e treinar técnicos de nível superior. Nesse sentido, entidades como o Senai precisam ser fortalecidos. O caso da montadora Fiat, no pólo de desenvolvimento do litoral Norte é relevante: as pessoas registram-se para obter os empregos, porém não comparecem aos cursos de aprimoramento. Essa situação precisa ser resolvida pelas prefeituras onde as empresas se estabelecem.
Outra via é o financiamento. Mais uma vez, um problema endêmico no Brasil. Os bancos nacionais não cumprem a função que os seus equivalentes nos EUA têm, de financiamento com taxas razoáveis. As fontes acessíveis são poucas, como o BNDES e o BNDES Par.
No entanto, temos uma classe A e A+, com muito caixa, e empresários sem recursos. Os EUA desenvolveram uma cadeia de financiamento à inovação: seed capital (capital semente): a empresa nasce com pouco dinheiro. Depois chegam os venture capitalists, que podem ser executivos experientes de alto nível, aposentados ou não, que não somente investem com os próprios recursos, mas também acompanham e aconselham os iniciantes.
Finalmente vêm os fundos de private equity quando a empresa já atinge um tamanho maior, antes de chegar à IPO. Essa cadeia de financiamento podia ser desenvolvida pelos bancos tradicionais do Estado, em conjunto com nossas universidades.
Num processo interativo, esses sistemas de financiamento acabarão procurando as boas ideias e os melhores inventores, "produzidos" em pólos tecnológicos. Em Pernambuco, temos um início, com três centros de informática: C.E.S.A.R, Cln-UFPE e Porto Digital, e devemos montar pólos para tecnologias ainda incipientes, tais como nanotecnologias ou tecnologias da saúde.
Outra sugestão é sermos também um centro brasileiro de desenvolvimento de energias renováveis. Se superarmos as dificuldades conseguiremos desenvolver Pernambuco e transpô-lo à frente na União, não somente compensar o atraso, mas pensando diferentemente e mais ambicioso. Assim, um dia, talvez não tão longe, conseguiremos ser a Califórnia do Brasil.
Jean-Jacques Gaudiot é consultor internacional e sócio da EZ Report
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