Numa manhã de 2005, no auge da crise do mensalão, o então vice-presidente, José Alencar, chegou contrariado ao seu gabinete. Ele estava irritado e repetiu algumas vezes que iria combater veementemente se quisessem tirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do cargo.
Quem conta isso é um amigo de Alencar, que disse ter presenciado a explosão daquele dia. "Ele deu a entender que tinha sido procurado por gente da oposição e também por gente de outros setores e que não aceitaria, que não entraria numa dessa e que combateria qualquer iniciativa de apear o Lula da Presidência", disse ao Valor esse interlocutor de Alencar que pediu para não ter seu nome citado.
A frase que o então vice-presidente (morto em 2011) usou naquele momento e que ficou na memória do amigo foi: "Tem gente da oposição e também mais gente querendo tirar o Lula". Quem ouviu isso naquela hora ficou com a sensação de que Alencar se referia aos partidos de oposição e a pessoas da área empresarial, lembra o amigo.
O episódio envolvendo Alencar foi relatado esta semana em um artigo escrito pelo ex-ministro de Lula e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). O texto foi veiculado pela agência "Carta Maior" sob o título "Um golpe de novo tipo contra Lugo". Genro fala do que chama de "uma conspiração de direita" que votou na semana passada pelo impeachment do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, e que, segundo o petista, deu um novo tipo de golpe de Estado, "pelas vias legais".
O governador compara a situação de Lugo com as pressões sofridas por Lula durante a crise do mensalão - o esquema de compra de votos de parlamentares que abalou o primeiro mandato do então presidente. E escreve que se tivesse isolado, Lula certamente teria sido afastado em meio ao uso político do mensalão.
E prossegue: "Acresce-se que aqui no Brasil - sei isso por ciência própria pois me foi contado pelo próprio José Alencar - o nosso vice-presidente falecido foi procurado pelos golpistas "por dentro da lei" e lhes rejeitou duramente."
Procurado pelo jornal Valor para dar detalhes sobre o que Alencar lhe disse, Genro não quis se pronunciar. O interlocutor de Alencar, ouvido pela reportagem, disse que nunca soube a quem exatamente Alencar se referia naquela manhã de irritação e quem o teria procurado para falar de um possível processo para afastar Lula - com a anuência do vice.
Fonte: Valor Econômico
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