Tribuna do Norte
América, Roberto Fernandes encontrou um time com destroçado pelas três derrotas seguidas para o seu maior rival, o ABC e também um clube que tinha acabado de perder o título do primeiro turno do estadual, justamente para o alvinegro. Com muito trabalho, pés no chão e disciplina, o técnico alvirrubro não só conseguiu reverter o quadro, como recuperou a auto estima dos jogadores e conquistou o campeonato estadual, com quatro vitórias consecutivas sobre o time abecedista.
Nessa entrevista exclusiva a TRIBUNA DO NORTE, o treinador rubro fala como conseguiu conquistar um título praticamente perdido, de montar um time extremamente ofensivo, das dificuldades de disputar um campeonato tão concorrido como a série B, dos prejuízos financeiros de jogar em Goianinha e também releva que não pretende deixar o América no meio da competição, independente de propostas de outros clubes. E afirma que muitas equipes ainda vão se surpreender com seu time.
Rodrigo SenaRoberto Fernandes - Técnico do América
O que o América tem?
Humildade, trabalho e um grupo muito comprometido com os seus objetivos. Acho que desde o início da série B, mesmo o América sendo campeão estadual, poucas equipes da série B do brasileiro, colocavam fé em nosso time. Falei aos jogadores que isso era uma coisa importante para a gente tomar proveito, porque na hora em que as pessoas começassem a acordar para nosso time, a gente já poderia estar com uma gordura importante, com um bom número de pontos conquistados. Naquele período entre o estadual e o brasileiro, falei que o primeiro objetivo era se afastar da zona de rebaixamento. E hoje, fazendo essa campanha, consequentemente a gente já começa a abrir em torno de 10, 12 pontos das últimas colocações. Isso é importante porque se continuarmos conseguindo manter, mesmo com os percalços da competição, essa performance, vamos chegar em um momento bem precoce da disputa, com essa preocupação de rebaixamento extinta e aí sim, poderemos jogar com um único foco que é o acesso para a série A.
Normalmente os técnicos trabalham com estatísticas. Você tem alguma pontuação que pretende atingir nesse primeiro turno?
Em termos de acesso, raramente alguma equipe entre a 26 e 28 rodada, que estava entre os seis primeiros colocados, houve surpresa. Então, o acesso acabou ficando entre os primeiros colocados até a 25 rodada. Nosso principal objetivo é esse: chegar no último terço da competição, entre os seis primeiros. Se conseguirmos atingir esse objetivo, com certeza absoluta, um dos objetivos já teria sido alcançado, que seria a permanência na série B e vamos estar na briga pelo acesso a série A.
Quando você assumiu o América, o time vinha de uma sequência negativa para o seu maior rival. Como surgiu esse novo América?
No futebol, uma coisa só é muito pouco. Futebol é conjunto em tudo. O que procurei fazer, em um primeiro momento, foi resgatar a auto estima do elenco. Quando se chegava a semana de jogo contra o ABC, já vinha aquele filme, será que vai acontecer de novo, nosso time se esforça, luta e não consegue a vitória. Então, a primeira coisa foi fazer isso, esse resgate. Um ponto importante foi a recuperação da equipe como um todo, no que diz respeito a parte física e a parte técnica. Sacrificamos alguns trabalhos de campo, para que a equipe tivesse um crescimento físico e chegasse na reta final do campeonato estadual no seu melhor ou no que poderia ser o melhor e quando aconteceu a primeira vitória, os atletas passaram a acreditar que era possível. O ponto chave, que sentirmos que o título estava começando a ficar vermelho e branco, foi quando conquistamos o segundo turno, com uma vitória dentro do Frasqueirão. Eu qualifico a final do segundo turno mais difícil, mais complicado, do que o próprio título. Na final, fizemos o primeiro jogo em casa, vencemos e a confiança era muito grande. Com o término do estadual, nossa preocupação era de não deixar com que os atletas achassem que a conquista do estadual já estava bom demais. Não. Foi um passo maravilhoso, tirou a torcida do América de um jejum de títulos de alguns anos, mas, agora iria começar o desafio principal, o mais difícil, que era a série B. Com isso, conseguimos manter o nível de trabalho, o foco.
Falando sobre saída de jogadores, houve propostas do Náutico ou da Portuguesa por Roberto Fernandes?
Não, só especulação. Quero tranquilizar os torcedores. Tive conversas a respeito disso com o nosso presidente, Alex Padang. Ele sabe o que penso e hoje, o meu foco, o meu objetivo, minha principal meta é levar o América a conquista da vaga na série A. Para que isso não ocorra, para que alguma mudança de roteiro aconteça no final de temporada, teria que ser uma coisa extremamente diferente que é minha realidade hoje em dia no América. Não sairia do América, agora, por alguma questão financeira, de alguns percentuais a mais ou a menos. O foco hoje, realmente está aqui, até por uma questão profissional.
Em relação à saída de jogadores, já está conversando com a direção sobre possíveis reforços ou o grupo que você tem, dá para suprir essas eventuais saídas?
No futebol brasileiro, é utopia um treinador falar que tem o grupo fechado. Acho que o bom jogador, comprometido, vivendo um bom momento, ele é sempre bem vindo em qualquer elenco. Então, sempre estamos de olho no mercado. Temos reuniões semanais com Alex Padang, presidente do clube, Paulinho Freire, vice de futebol e Leandro Sena, supervisor de futebol, com todos da direção, para trocar ideias e expôr as nossas necessidades. Não pode pensar que quando vencemos somos os melhores e quando perdemos, somos os piores. Não pode ser assim. Tem que existir equilíbrio. O América vive um bom momento, vive. Mas, nosso time tem carências. Nossa equipe ainda precisa de algumas coisas, algumas peças. Isso, vamos conversando. Mas, entendo o momento do clube. Sabemos do prejuízo financeiro que o América está tendo por ter de jogar fora de Natal.
O América tem o que todo treinador pensa para seu time: uma marcação muito forte e uma saída para o ataque muito rápida. São os jogadores do elenco que propiciaram você a armar esse esquema ou foi o inverso?
São as duas coisas. Um time médio, organizado, fica um bom time. Um bom time, organizado, fica bastante competitiva e um grande time, organizado, é quase imbatível. Quase. Não existe time imbatível. O que procuramos fazer é mais ou menos isso. Aliar as características técnicas e individuais dos atletas, dentro daquilo que a gente entende o que é melhor para o futebol. As coisas são simples: temos que ter uma marcação adiantada, procurando sufocar o adversário no seu campo e no momento em que você não consegue sair, você tem uma recomposição, compactação, no seu campo. Fazendo isso aí, você vai estar bem postado e pronto, para quando o seu time tiver a posse de bola, atacar o adversário.
A melhor defesa é o ataque?
A melhor defesa é a defesa e o melhor ataque, é o ataque. Por isso que é importante uma das coisas que se você pesquisar, é que, o América, depois que iniciei esse trabalho, o time não só aumentou o número de gols, como melhoramos bastante a nossa defesa. Terminamos o estadual com a melhor ou segunda melhor defesa. E hoje, na série B, estamos mantendo essa média. Tudo passa pelo equilíbrio. Temos jogadores extremamente dedicados taticamente. Temos sido muito feliz nos goleiros. O Dida começa a se tornar uma realidade no futebol brasileiro, sem contar que tenho Galatto e Tiago no banco. Então, é um equilíbrio. O melhor ataque é o ataque, a melhor defesa é a defesa e o melhor o melhor time é o mais equilibrado.
Os times considerados grandes, vão entrar na brigar pelo acesso?
Tem coisas que não se modifica. A questão financeira sempre vai pesar. Esses times, dificilmente vão perder jogadores e em uma reta final de contratações, tem barganha financeira para contra-atacar. Vou dar um exemplo: o Guarani, tem um jogador que indiquei para vir jogar no América. Sendo que o salário custava R$ 50 mil. Por isso, não pudemos contratar. Por isso, apostamos muito no entrosamento, no apoio do torcedor, no trabalho e dedicação dos atletas, mas sabemos que estamos na frente de muito "peixe grande" e não podemos dar bobeira, porque esses times têm poder de recuperação e tem dinheiro para se recuperar no campeonato.
O que o torcedor americano pode esperar dessa sequência na série B?
O torcedor tem que cobrar do América, dos atletas, comissão técnica, de mim, sempre o melhor. Que o nosso time possa fazer, a cada jogo dessa série B, uma verdadeira decisão. Se continuarmos com humildade, com a cabeça no lugar, no trabalho, podemos, ao final da competição, surpreender muita gente. Não vou dizer nem de Natal, porque seria um absurdo sermos surpresa aqui. No Rio Grande do Norte, todo mundo conhece o América. Mas, no restante do Brasil, tenho certeza que tem muita equipe que ainda acha o América um cavalo paraguaio, que daqui a pouco vai cair de produção. Nosso desafio é esse, não deixar o time cair de produção e vamos ver o que vai acontece.
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