domingo, 31 de julho de 2011

O choro da durona

Deu em Josias de Souza

Senadora de primeiro mandato, Gleisi Hoffmann construiu uma fama que a precedeu na Casa Civil da Presidência.

Os colegas a apelidaram de “Pit-bull do Senado”. Sob a retórica àspera e os olhares faiscantes escondem-se, porém, glândulas lacrimais cuja atividade contrasta com a reputação de durona.

Em entrevista à repórter Marina Caruso, veiculada pela revista ‘Marie Claire’, Gleisi contou o que se passou na noite da véspera de sua posse no Planalto.

Convidada por Dilma Rousseff para substituir Antonio Palocci, trocou ideias com o marido, o também ministro Paulo Bernardo (Comunicações).

"Eu dizia: ‘Paulo, tenho dúvidas. Não me sinto preparada’. Mas ele me pedia para refletir. Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo. Era muita responsabilidade." Na manhã seguinte, foi ao encontro da presidente decida a recusar o convite. Deixou o gabinete como chefe do ministério mais proeminente do governo.

A íntegra da entrevista pode ser lida aqui. Vão abaixo alguns trechos. Revelam a outra face de Gleisi, uma mulher que chora em privado e cultiva gostos efêmeros:

- As qualidades: Duas características foram essenciais na minha vida: determinação e disciplina. Meus pais me deram isso. Eles sempre foram rígidos na educação e nos impuseram humildade.

- As mulheres no poder: Acho bárbaro quando os homens dizem que nós nos preocupamos muito com os detalhes. Essa é uma avaliação crítica recorrente, inclusive que alguns fazem à própria presidente. Dizem que a gente fica muito preocupada com detalhe e que temos de pensar no macro. Só que o diabo mora nos detalhes.

- A Casa Civil sem política: Nenhuma concentração é boa. Desde o governo do presidente Lula, havia a Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação política. A Casa Civil é articuladora e facilitadora das ações de governo. Trabalhar em equipe é sempre mais seguro e eficaz. Não me atrai a atitude heroica.

- O convite: Quando a presidenta me convidou para ser ministra-chefe da Casa Civil, eu gelei. Foi um susto. Tive dúvidas se deveria aceitar. Pensei: "Meu Deus, é muita responsabilidade". Ela me chamou um dia antes da posse, e eu fiquei muito preocupada. […] Falei para o Paulo [Bernardo]: "Acho que não devo aceitar. Não me sinto em condições". E ele disse: "Reflita bem". Naquela noite, eu chorei. Chorei mesmo.

- A conversa com Dilma: Sentei na frente dela decidida a falar que eu achava melhor não assumir, porque não me sentia preparada para desafios tão grandes. Mas ela foi falando, falando, falando e no final eu disse: "Tá bem, presidenta" (faz voz de menina e solta uma gargalhada). Pensei: "Se Deus me pôs aqui é porque eu devo poder fazer algo diferente para ajudar o Brasil. Não é fortuito".

- A reação do marido: Para ele, foi um susto também. Não acredito que o tenha afetado. Mas ele tem reclamado que eu trabalho demais. Saio de casa antes dele e chego depois. Mas ele vai ter de ter paciência e cuidar um pouco mais das crianças. Ele sempre foi a pessoa pública, e agora sou eu que estou mais em evidência.

No dia da minha posse, o telefone de casa tocou às 6 horas da manhã. Ele atendeu, ainda sonolento. Era uma jornalista de uma rádio perguntando: "Alô, é o assessor da Gleisi?". Ele costuma ser mal-humorado de manhã, mas foi espirituoso: "Claro que não. É o marido dela. O assessor de imprensa não dorme aqui em casa!".

- Os apelidos – "Pit-bull do Senado" e "Barbie da Dilma”: Nunca mordi ninguém. Defendia o governo porque acredito nele. E se me chamam de Barbie é porque me acham bonitinha e vazia como uma boneca, não ligo. Não me acho bonita e cuido de minha aparência como a maioria das mulheres. Ser como a Barbie, embora longe da realidade, me envaidece.

- A compulsão pelo choro: Já chorei muito na vida. Já cheguei em casa, me tranquei no quarto e chorei, chorei, chorei. Os apelidos não me afetam muito. Mas, quando um projeto não dá certo, falha, eu me frustro muito. Sou muito perfeccionista e não gosto das críticas que não são construtivas.

- As plásticas: Sou cuidadosa como toda mulher. Fiz uma plástica nos seios, depois de amamentar, e apliquei Botox no rosto, para atenuar as rugas. Se eu pudesse, pediria ao tempo para andar mais devagar.

- O sonho de consumo: Adoro bolsa e sapato. Eu olho na vitrine e me dá vontade de levar. Adoraria ter uma bolsa Louis Vuitton. Não é nem pela marca, pelo estilo mesmo. Acho tão bacana, gosto do design. Uma vez pensei em comprar uma no Paraguai, mas achei melhor não [risos].

- O gosto musical: Chico Buarque, que adoro, e grupo ABBA. Por conta disso já assisti a Mamma mia umas seis vezes.

- O DNA politico: Entrei [na política] quando fazia movimento estudantil, com 19, 20 anos. Meu primeiro partido foi o PCdoB. Conheci o PT depois, em 1989, e nunca mais o deixei. Trago o compromisso de dedicar-me àquilo que efetivamente melhora a vida das pessoas e busca justiça social. Deixei para trás a visão romântica de esquerda.

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