Renata Lo Prete e Josias de Souza contam e complementam a história.
Na Folha de S.Paulo, em sua coluna Painel, Renata informa que "um novo capítulo da tensão PT-PMDB no governo opõe o presidente da Caixa, Jorge Hereda, e o vice de Loterias, Fábio Cleto."
Segundo a jornalista, "Hereda defende o veto presidencial à permissão, incluída por peemedebistas em MP, do uso do Fundo de Investimentos do FGTS em empreendimentos relacionados à Copa e à Olimpíada. Cleto, indicado pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), avisou que trabalhará pela manutenção do dispositivo."
Já em seu blog, Josias vai mais fundo. Leiam:
Azedou a relação da banda do PMDB com a ala do PT na diretoria da Caixa Econômica Federal.
A razão da desavença é um parecer sobre a aplicação de verbas do FGTS em projetos relacionados à Copa-2014 e às Olimpíadas-2016. Coisa de R$ 5 bilhões.
De um lado da contenda, está Marcos Vasconcelos, um apadrinhado do PT que responde pela vice-presidência de Ativos de Terceiros da Caixa.
No córner oposto, encontra-se Fabio Cleto, indicado pelo PMDB para a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias.
A destinação de parte do FGTS para empreendimentos ligados aos dois mega-eventos esportivos consta de MP (medida provisória) aprovada pelo Congresso há duas semanas.
O governo foi autorizado a investir a verba do trabalhador em quatro tipos de projetos: infraestrutura aeroportuária, mobilidade urbana, hoteis, e lojas comerciais.
Depois de passar pela Câmara, a MP foi referendada pelo Senado no dia 22 de novembro. Encontra-se sobre a mesa de Dilma Rousseff, à espera da sanção.
Deve-se a eletrifição da atmosfera da Caixa a um parecer elaborado por Marcos Vasconcelos.
Em documento de quatro folhas, o dirigente da ala do PT empilhou argumentos contrários à novidade que deputados e senadores acabaram de aprovar.
Vasconcelos assinou o arrazoado e enviou-o a Fabio Cleto. Em branco, espaços para as rubricas do destinatário e do presidente da Caixa, o petista Jorge Hereda.
Deu-se, então, o curto circuito. O dirigente da banda do PMDB recusou-se a assinar o documento. Mais: elaborou outro parecer, favorável à medida provisória.
Afora a divergência de mérito, Fábio Cleto abespinhou-se porque o FGTS é assunto da sua vice-presidência, não da de Marcos Vasconcelos.
Embora seja a gestora do FGTS, a Caixa não tem poder de decisão sobre a matéria que envena sua diretoria.
Pode, no máximo, oferecer argumentos para subsidiar a decisão de Dilma, a quem caberá sancionar ou vetar o texto enviado ao Planalto pelo Congresso.
Os pareceres de Vasconcelos e Cleto, um diametralmente oposto ao outro, escalaram a mesa de Hereda, o mandachuva petista da Caixa.
Se engavetar os dois pareceres, o presidente da Caixa zera o jogo e deixa que Dilma promova o desempate.
Se endossar um texto em detrimento do outro, Hereda arrisca-se a borrifar veneno no já conspurcado ambiente da Caixa, convertendo o ruim em muito pior.
A utilização de nacos do FGTS em projetos de infraestrutura não é algo propriamente inédito. Ocorre há quatro anos.
Criou-se em 2007 o FI-FGTS. Destina-se a prover recursos para obras nos setores de portos, hidrovias, ferrovias, energia e saneamento.
A novidade é a inclusão das obras da Copa e das Olimpíadas no rol de projetos passíveis de receber verbas do fundo.
Hoje, o FI-FGTS dispõe de R$ 26 bilhões. Desse total, encontram-se aplicados em projetos de infraestruta cerca de R$ 20 bilhões.
A ideia é carrear para obras relacionadas aos eventos esportivos algo em torno de R$ 5 bilhões.
Em tese, o trabalhador está protegido de eventuais prejuízos. Desde que foi criado, o FI-FGTS carrega um mecanismo de proteção ao dono do dinheiro.
Prevê o seguinte: se o projeto selecionado resultar em rendimento inferior à rentabilidade mínima do FGTS, o Tesouro entra com a diferença.
Quer dizer: em caso de prejuízo, o espeto é compartilhado por todos os contribuintes em dia com a Receita Federal.
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