domingo, 1 de julho de 2012

Depois a mídia reclama quando é chamada de PIG



Depois a mídia reclama quando é chamada de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Seu previsível comportamento no que tange ao golpe de Estado “constitucional” no Paraguai, porém, reforça o estereótipo que ela construiu para si mesma ao longo de sua história de apreço pelas rupturas institucionais aqui e em outros países governados pela esquerda.

O grau de amor ao golpismo que se está vendo na mídia brasileira vai do apoio envergonhado da Folha de São Paulo ao apoio desavergonhado dos pistoleiros da Globo. Todos, porém, encarregados de vender ao país a teoria de que haveria algum mínimo resquício de legalidade no processo que derrubou o governo legitimamente eleito do país vizinho.

A Folha, em editorial, constata o óbvio, que o processo não obedeceu aos ritos legais aceitáveis em um processo dessa natureza, mas prega a consolidação do golpe afirmando que “Cumpre ao Brasil respeitar a soberania do Paraguai” aceitando a defenestração de um governo constitucional em um rito sumário imoral, para dizer o mínimo.

Já a Globo, mais descarada, põe Arnaldo Jabor e Merval Pereira para defenderem o golpismo à paraguaia. Os “pensamentos” desses dois se aliam aos de setores da classe política brasileira como o que integra o vice-presidente nacional do DEM, o baiano José Carlos Aleluia, que comemorou o golpe “constitucional” no Paraguai e insinuou que pode se reproduzir aqui.

O comentário de Jabor no Jornal da Globo de sexta-feira (22.06) é o mais emblemático das perversões políticas que acalenta essa meia dúzia de impérios de comunicação daqui e, também, de outros tantos países latino-americanos que vivem sob permanentes ameaças à democracia. Abaixo, a íntegra de um comentário que resume a grande mídia brasileira.

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Jornal da Globo

23 de junho de 2012

Comentário de Arnaldo Jabor

Na América Latina existe uma mistura de populismo com slogans de uma velha esquerda enterrada desde a queda do muro de Berlim – autoritarismo disfarçado de democracia.
Assim vive a Venezuela do Chávez, a Bolívia “cocalera” de Morales, a Argentina de Cristina “botox” e o Paraguai, em que o ex-bispo Lugo prometeu reforma agrária para os sem-terra, mas também esmagou o santuário dos guerrilheiros do povo por ter sido acusado de protegê-los.
Tá confuso entender isso, não é? Mas é o Paraguai, é uma caricatura desse esquerdismo-direitista latino. Um exemplo é o próprio bispo católico Lugo, que teve vários filhos ainda de batina roxa, pregando castidade com sexo. Agora em junho, ele atacou os sem-terra, que o elegeram. Morreram policiais e camponeses.

Criticado pelos dois lados, Lugo chamou a oposição para o governo. Aí a mistura entornou e o bispo sem batina foi “impichado” pelo congresso como está previsto na constituição do Paraguai.
Agora a polêmica: foi golpe ou impeachment legal? Os tiranetes latinos já gritam “golpe!”. Mas golpe de quem, da esquerda ou da direita? Uísque falsificado ou escocês?
E o Brasil, qual será sua posição? Vai dar mais grana para o pobre Paraguai, como fez Lula em Itaipu, ou vai oferecer abrigo ao Lugo na embaixada, como fez com Zelaya em Honduras?
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“Tiranetes”? Que “tiranetes”? Os presidentes dos países da Unasul que rechaçaram o golpe “branco” no Paraguai – entre os quais está a presidente Dilma Rousseff – podem ser tudo, menos isso. Elegeram-se de forma inquestionavelmente democrática, à diferença dos regimes militares que Globo, Folha e outras organizações criminosas apoiaram durante o século XX.

Note-se que a fala de Jabor alude à vida íntima de Fernando Lugo, como se ele ter gerado filhos enquanto era padre, mas antes de se eleger presidente, justificasse ruptura da ordem institucional em seu país.

Cristina Kirchner, presidente da Argentina, é alvo de machismo de Jabor. “Cristina botox”, ele disse. Bem, se isso for sinônimo de “tirania”, como quer o pistoleiro global, boa parte das mulheres, mães, filhas e irmãs dos barões da mídia ou as socialites do entorno que possam ter usado botox um dia para se embelezarem deixaram de ser democráticas por isso.

Já Merval Pereira, em mais uma de suas mervalices, ao menos inventa alguma desculpa para derrubarem um governo legitimamente eleito em pouco mais de 24 horas. Abaixo, trecho do golpismo mervalista-global:

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O Globo
23 de junho de 2012
Dentro da lei
Merval Pereira
(…) Não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um “golpe parlamentar”, e que, em entrevista, já chegou a reivindicar de volta seu mandato presidencial. O interessante é que Collor foi impedido pelo Congresso brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a decisão dos políticos (…).
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Não há um só analista de política internacional, nenhum especialista acadêmico e nenhum político que concordem com Merval e Jabor. Seus comentários poderiam ser tomados por falta de conhecimento sobre como funcionam as democracias presidencialistas por quem não lhes conhece a história, mas quem sabe como e por que dizem essas coisas sabe que é porque são golpistas mesmo.

Collor? Que bobagem é essa? O processo de impeachment dele, desde a abertura do processo no Congresso até sua saída da Presidência, demorou, aproximadamente, SEIS MESES, enquanto que o processo que derrubou Lugo durou cerca de UM DIA, com DUAS HORAS PARA O PRESIDENTE SE DEFENDER.

Pior é a acusação. O confronto entre sem-terras e forças de repressão do Estado não poderia ser atribuído a Lugo sem investigação sobre o que aconteceu. Testemunhas e evidências ou provas teriam que ser apresentadas ao congresso, teria que ser provado que o presidente da república ordenou alguma coisa ou teve participação direta no caso.

O processo foi tão absurdo que até o agora “presidente” do Paraguai, Federico Franco, reconhece que ocorreu “muito rápido” e se disse “surpreendido” pela rapidez. Ou seja, Merval e Jabor estão sendo mais realistas do que o rei.

Para a América Latina e, mais particularmente, para o Brasil esse golpe “constitucional” não é apenas inaceitável, mas, aliado ao comportamento da grande mídia e de parte da classe política nacionais e dos outros países da região, é uma ameaça. Escancara quantos poderes acalentam devaneios golpistas.

O golpe “constitucional” em Honduras acabou vingando, mas não era tão importante para o Brasil e para o resto dos países que compõem a Unasul e o próprio Mercosul.

A ruptura democrática no Paraguai, para nós que com ele dividimos uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo ou uma fronteira por onde trafega intensa relação comercial é ameaçadora porque nos afeta diretamente. Bem como aos demais países da região.

Boa parte dos países da Unasul já condenou o golpe paraguaio. Mesmo Dilma Rousseff, muito mais comedida que os líderes dos outros países da organização que o Brasil integra e que propugnou ainda no governo Lula, já deu mostras de que não deve aceitar o que ocorreu. Todos os países da região sabem a porta que será aberta se não houver resposta à altura.

Entretanto, apesar dos protocolos da União das Nações Sul-Americanas, haverá que ver como se comportarão a Organização dos Estados Americanos (OEA) e, claro, os Estados Unidos. A OEA deve ratificar as posições da Unasul, como fez durante o golpe em Honduras. Mas os EUA podem se meter a suprir o que as sanções da comunidade das Américas tirarem do Paraguai.

Por o Paraguai ter uma economia minúscula, os EUA poderão despejar dólares em seus cofres de forma a ter como sustentar o regime de força que acaba de ser instalado e que já começa a promover censura – no mesmo dia da deposição de Lugo, o “presidente” biônico do país mandou a tevê estatal censurar as manifestações de apoio ao presidente deposto.

Do ponto de vista do Brasil, o grande temor é o de que o “pragmatismo” do governo do PT o leve a fazer corpo mole para não provocar marolas políticas, como de costume. O golpismo que a mídia e a oposição abraçam, porém, deveria fazer Dilma se lembrar de que essas forças tentaram e tentam provocar juízos políticos semelhantes contra os dois últimos governos.

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