Presidente visita o país após três semanas de vinda de Obama ao Brasil.
China ultrapassou os EUA como maior parceiro comercial do país em 2009.
Três semanas após o Brasil ter recebido o presidente dos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff deixa de lado a agenda “pop” de Barack Obama e vai para a China com o objetivo de estreitar as relações comerciais entre os países. Ela desembarcou em Pequim no final da noite deste domingo (10).
O momento é considerado simbólico por especialistas consultados pelo G1, uma vez que a China ultrapassou os Estados Unidos no ano passado como principal parceiro comercial do país.
Dilma partiu para a primeira viagem como presidente ao país, com a difícil missão de fazer com que empresários brasileiros e chineses se entendam. Ao mesmo tempo, tenta mostrar ao mundo que o Brasil, como sétima economia, tem maturidade política suficiente para conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
“Este já é um ano político para Obama. A recuperação econômica do país não foi tão rápida quanto ele prometeu, então é normal que ele comece a viajar para dar à opinião pública a imagem de estadista”, afirma Freitas sobre o primeiro giro do norte-americano pela América do Sul, em março.
Já na viagem de Dilma, segundo o especialista, o único objetivo diplomático da presidente deve ser a indicação do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, cuja resposta chinesa “vai ser não, sem dúvida”. “Se o Brasil entra, abre precedente para o Japão entrar. China e Japão têm uma rivalidade histórica, a China não vai querer isso”, observa Freitas.
Para o pesquisador Moises Lopes de Souza, do Centro de Estudos de China e América Latina na Universidade Nacional de Chengchi, em Taipei, os EUA são hoje parceiros estratégicos do Brasil nas discussões de temas globais, enquanto a China se firma como parceiro econômico-comercial com crescente influência nos fóruns internacionais. “Essa combinação básica de fatores certamente irá pautar a relação destes três países na próxima década”, afirma.
Negócios da ChinaEspecialista em países asiáticos, o professor de Relações Internacionais da ESPM, Marcelo Rocha Zorovich ressalta que o papel de Dilma será fazer com que o espaço entre empresariado brasileiro e chinês se reduza. “O receio do não cumprimento de contratos por parte dos chineses assusta o empresariado brasileiro. Outro ponto é o câmbio: o real valorizado dificulta muito os negócios”, destaca o professor da Faap.
Assim como fez Obama na sua visita ao Brasil, a presidente viaja à China acompanhada de uma comitiva de empresários brasileiros com interesses no mercado chinês. Além de ser o país do mundo que mais exporta hoje (após ultrapassar a Alemanha), a China é o segundo que mais importa (ainda atrás dos Estados Unidos).
Para Marcus Vinicius de Freitas, no entanto, o assunto é ainda mais profundo. Segundo ele, o que falta ser traçada é a política que o governo brasileiro adotará em relação à China, tanto comercialmente quanto diplomaticamente.
Dúvida que com os Estados Unidos não há. Comercialmente, a visita do Obama tinha como foco retomar os laços perdidos durante o governo Lula com assuntos delicados como a entrada nos EUA de algodão, suco de laranja e etanol brasileiros, além de polêmicas diplomáticas como o apoio de Lula ao Irã e a postura de não reconhecimento do novo governo de Honduras.
Direitos humanosJá a expectativa em torno de um possível discurso de Dilma que aborde a questão dos direitos humanos, tema que vem ocupando mais central no atual governo, deve ficar fora da pauta, na opinião dos especialistas ouvidos pelo G1.
“Dificilmente o governo Dilma, que ainda carece de reconhecimento internacional e que não goza do mesmo carisma que o governo anterior tinha no cenário internacional irá vestir essa saia justa. O tema direitos humanos na China e altamente sensível, e qualquer pais que tocar nessa questão, certamente põe as relações bilaterais com Pequim na UTI”, diz o pesquisador Moises Lopes de Souza.
O coordenador de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, Alexandre Uehara, vê um impedimento a mais, já que o Brasil foi questionado recentemente pela OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre o tema.
“Nesse momento, o Brasil está em situação complicada, em função dos questionamentos da OEA. O país também tem problemas domésticos com direitos humanos. Eles [os chineses] teriam um contra-argumento”, afirma.
O momento é considerado simbólico por especialistas consultados pelo G1, uma vez que a China ultrapassou os Estados Unidos no ano passado como principal parceiro comercial do país.
Dilma partiu para a primeira viagem como presidente ao país, com a difícil missão de fazer com que empresários brasileiros e chineses se entendam. Ao mesmo tempo, tenta mostrar ao mundo que o Brasil, como sétima economia, tem maturidade política suficiente para conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
Dilma Rousseff chega a Pequim. Piloto registrou o momento em que a presidente deixou o avião. (Foto: David Gray / Reuters)
De acordo com o professor de Relações Internacionais da Faap, Marcus Vinicius de Freitas, enquanto Obama tentou reconquistar o eleitor norte-americano, angariar a simpatia da América Latina - o que explica bater bola com moradores do complexo do Alemão, falar a políticos e celebridades no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e visitar o Cristo Redentor - Dilma focará sua viagem à China nos negócios.Obama no Brasil | Dilma na China | ||
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Tópicos comerciais | Tópicos diplomáticos | Tópicos comerciais | Tópicos diplomáticos |
Estreitar relações perdidas com a posição dos EUAem proteger o país da entrada de produtos brasileiros como algodão, suco de laranja e etanol | Com a popularidade em queda às vésperas de uma nova eleição, Obama precisava reforçar a figura de estadista. Conquistar a simpatia da América Latina tem peso para a opinião pública norte-americana. | A China ultrapassou os Estados Unidos neste ano como principal parceiro comercial do país. A presidente precisa estreitar as relações comerciais entre os dois países | O governo brasileiro precisa definir mais claramente que política adotará em relação à China, que se tornou seu maior parceiro comercial. |
Com a descoberta do pré-sal, o Brasil ganhou o poder de possuir reservas de petróleo. Futuramente, isso terá forte peso nas relações comerciais globais | Retomar as relações diplomáticas existentes antes do governo Lula, que foram abaladas após polêmicas como o apoio de Lula ao Irã e a postura de não reconhecimento ao novo governo de Honduras. | O Brasil precisará de forte investimento em infra-estrutura e a China seria um grande parceiro neste sentido | O apoio da China teria grande peso na campanha do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU |
O Brasil é a sétima maior economia do mundo, o que o torna extremamente importante considerando que o consumo está cada vez mais pulverizado, devido à globalização | O empresariado brasileiro ainda tem receio do não cumprimento de contratos por parte dos chineses. A valorização do real também dificulta as relações comerciais. Assim, o governo brasileiro precisa aumentar o intercâmbio cultural com o empresariado chinês |
Já na viagem de Dilma, segundo o especialista, o único objetivo diplomático da presidente deve ser a indicação do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, cuja resposta chinesa “vai ser não, sem dúvida”. “Se o Brasil entra, abre precedente para o Japão entrar. China e Japão têm uma rivalidade histórica, a China não vai querer isso”, observa Freitas.
Para o pesquisador Moises Lopes de Souza, do Centro de Estudos de China e América Latina na Universidade Nacional de Chengchi, em Taipei, os EUA são hoje parceiros estratégicos do Brasil nas discussões de temas globais, enquanto a China se firma como parceiro econômico-comercial com crescente influência nos fóruns internacionais. “Essa combinação básica de fatores certamente irá pautar a relação destes três países na próxima década”, afirma.
Negócios da ChinaEspecialista em países asiáticos, o professor de Relações Internacionais da ESPM, Marcelo Rocha Zorovich ressalta que o papel de Dilma será fazer com que o espaço entre empresariado brasileiro e chinês se reduza. “O receio do não cumprimento de contratos por parte dos chineses assusta o empresariado brasileiro. Outro ponto é o câmbio: o real valorizado dificulta muito os negócios”, destaca o professor da Faap.
Assim como fez Obama na sua visita ao Brasil, a presidente viaja à China acompanhada de uma comitiva de empresários brasileiros com interesses no mercado chinês. Além de ser o país do mundo que mais exporta hoje (após ultrapassar a Alemanha), a China é o segundo que mais importa (ainda atrás dos Estados Unidos).
Para Marcus Vinicius de Freitas, no entanto, o assunto é ainda mais profundo. Segundo ele, o que falta ser traçada é a política que o governo brasileiro adotará em relação à China, tanto comercialmente quanto diplomaticamente.
Dúvida que com os Estados Unidos não há. Comercialmente, a visita do Obama tinha como foco retomar os laços perdidos durante o governo Lula com assuntos delicados como a entrada nos EUA de algodão, suco de laranja e etanol brasileiros, além de polêmicas diplomáticas como o apoio de Lula ao Irã e a postura de não reconhecimento do novo governo de Honduras.
Direitos humanosJá a expectativa em torno de um possível discurso de Dilma que aborde a questão dos direitos humanos, tema que vem ocupando mais central no atual governo, deve ficar fora da pauta, na opinião dos especialistas ouvidos pelo G1.
“Dificilmente o governo Dilma, que ainda carece de reconhecimento internacional e que não goza do mesmo carisma que o governo anterior tinha no cenário internacional irá vestir essa saia justa. O tema direitos humanos na China e altamente sensível, e qualquer pais que tocar nessa questão, certamente põe as relações bilaterais com Pequim na UTI”, diz o pesquisador Moises Lopes de Souza.
O coordenador de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, Alexandre Uehara, vê um impedimento a mais, já que o Brasil foi questionado recentemente pela OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre o tema.
“Nesse momento, o Brasil está em situação complicada, em função dos questionamentos da OEA. O país também tem problemas domésticos com direitos humanos. Eles [os chineses] teriam um contra-argumento”, afirma.
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